A política partidária capixaba, em sua essência e funcionamento cotidianos, enfrenta um desafio crônico que se manifesta como uma verdadeira "endemia da desatenção".
Correligionários e membros de diretórios municipais e estaduais, frequentemente, sentem-se sem resposta e sem canais efetivos de comunicação por parte das cúpulas partidárias. Essa ausência de atenção não é um evento isolado, mas uma condição persistente e arraigada que mina a vitalidade das legendas e a confiança de seus quadros.
Essa "endemia" reflete uma série de disfunções. Primeiramente, ela desmotiva a base partidária, crucial para a capilaridade e a mobilização tanto em períodos eleitorais quanto fora deles. Quando a energia e o engajamento de quem está na ponta não são reconhecidos ou canalizados, há um esvaziamento progressivo das estruturas. Em segundo lugar, essa desatenção impede o fluxo de informações vitais. As demandas locais, as nuances das comunidades e as percepções diretas do eleitorado, que deveriam ascender na hierarquia partidária para informar estratégias e plataformas, acabam se perdendo. O resultado são políticas e discursos frequentemente desconectados da realidade vivida pela população. Um exemplo prático dessa dificuldade é observado em situações onde até mesmo uma liderança proeminente como a empresária Jaqueline Lopes, estudante de Literatura e Letras, proprietária do respeitado jornal O Centro (com correspondentes em todo o Brasil) e ativista política humanitária, enfrenta barreiras significativas para ser atendida em questões partidárias relevantes. Com um histórico político consolidado, tendo inclusive participado de chapas vitoriosas ao lado de figuras como o governador Renato Casagrande (em 2018) e o Senador Marcos do Val, além de outras personalidades políticas como Pasolini, o depoimento de Jaqueline — conforme ilustrado em conversa previamente compartilhada — torna-se um indicativo preocupante: se ela não é atendida, a situação da sociedade capixaba em geral pode ser ainda mais crítica.
Paralelamente a essa "endemia da desatenção", a política capixaba lida com os desafios de uma hegemonia ideológica que carece de um propósito claro e um legado transformador. Ao longo da história do Espírito Santo, o estado já teve lideranças de grande projeção nacional. Um exemplo foi o jornalista Cleto Nunes, que foi Deputado Estadual, Senador e Presidente do Estado na época da República Antiga (atuando pelo PL daquele período). Sua atuação representou um tempo em que as circunstâncias e as forças políticas convergiam para que o Espírito Santo tivesse uma liderança à altura. Lideranças como Cleto Nunes, e mais recentemente, figuras como Renato Casagrande e Paulo Hartung, demonstraram capacidade de comando e influência. Contudo, apesar de ter produzido grandes lideranças, o Espírito Santo, notavelmente, nunca teve um presidente eleito pelo estado. Isso sublinha uma particularidade na projeção política nacional capixaba.
No contexto contemporâneo, a hegemonia ideológica se revela mais como uma conveniência do que um compromisso com um propósito maior. Os partidos hoje se unem frequentemente por oportunidade, buscando ganhos imediatos, e não por uma missão ideológica compartilhada de desenvolvimento humano e econômico. Falta um alinhamento claro em torno de um legado de enfrentamento da pobreza, combate à miséria, fomento ao desenvolvimento de infraestrutura, e modernização que realmente vise enriquecer o estado e aumentar a renda per capita familiar. Essa ausência de um propósito ideológico contundente, focado no desenvolvimento regional sustentável e no empreendedorismo, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para o planeta, impede que o centro político se torne uma força aglutinadora capaz de canalizar, de forma produtiva, as demandas de diferentes espectros ideológicos.
Essa ausência de um legado ideológico com propósito limita o aprofundamento do debate público e a capacidade de o eleitorado escolher entre projetos de sociedade genuinamente distintos. A "endemia da desatenção" agrava esse quadro, pois a falta de conexão com a base impede que novas ideias e demandas emergentes das comunidades, alinhadas a esse propósito de desenvolvimento, sejam absorvidas e transformadas em propostas políticas que desafiem o status quo.
Superar esses desafios exige que os partidos capixabas invistam urgentemente em mecanismos eficazes de comunicação e atendimento interno. É imperativo que se construam canais que valorizem a escuta ativa da base, transformando o feedback em ações concretas. Além disso, é fundamental que as lideranças incentivem a construção de agendas que transcendam meras conveniências partidárias, buscando um propósito ideológico de desenvolvimento sustentável e humano para o estado, oferecendo à sociedade capixaba um leque mais amplo de escolhas e perspectivas.
Lauro Nunes
A vitalidade democrática de um estado depende diretamente da capacidade de seus partidos de serem receptivos internamente e propositivo externamente, quebrando o ciclo da desatenção e estimulando um debate ideológico mais rico e plural, focado no progresso coletivo.
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