Eu me pronuncio em uma carta aberta ao multimilionário Pablo Marçal, cujo patrimônio foi declarado em R$193,5 milhões à Justiça Eleitoral, para debater o discurso de prosperidade e a distância entre a fortuna e a realidade da base.
Prezado Pablo Marçal,
Permita-me iniciar esta carta com um reconhecimento sincero: é impossível não admirar e parabenizar a sua trajetória. Ver um jovem, vindo da pobreza e de uma família de poucos recursos, alcançar uma escalabilidade de negócios tão impressionante é um feito notável. A sua visão empreendedora moderna, alicerçada na economia digital, e a capacidade de transformar conteúdo em um patrimônio declarado de R$193,5 milhões (segundo a sua última declaração à Justiça Eleitoral) são, inegavelmente, um case de sucesso. O seu império, simbolizado pela cota de R$80 milhões em sua Aviation Participações, comprova que você domina as ferramentas da riqueza.
Pablo,
A sua jornada de ascensão é, inegavelmente, uma montanha simbólica que muitos almejam escalar. O senhor alcançou o topo e, no calor do debate, levanta uma preocupação que merece uma pausa para reflexão: o que aconteceria com os empregos CLT caso nós retirássemos os bilionários e proprietários de grandes empresas?
Essa inquietação, vinda de um mestre que prega a quebra da mentalidade do "empregado", não é um erro; é um convite involuntário a uma autoanálise. O seu discurso forte contra a passividade, Pablo, por vezes, revela a sombra da própria dor superada. Mas é no manejo prático dessa fortuna que reside a sutileza que deve ser observada, por você, pelos senhores participantes do vídeo e pela sociedade.
Eu imagino que, com a sua filosofia de vida e o seu apelo por uma economia de empreendedorismo, suas diversas empresas e participações (em mais de doze CNPJs na sua holding e em investimentos, certo?) devem ter a sorte de não ter nenhum colaborador na situação de CLT. Deve ser um atestado de excelência e coerência moral no seu modelo de negócios, onde todos os seus colaboradores, inclusive aqueles que cuidam do seu aparato, como a holding, são no mínimo acionistas de cotas preferenciais, com participação direta no lucro, enriquecendo junto com suas empresas. Deve ser, de fato, uma qualidade especial na sua gestão: ter abolido internamente o modelo CLT, tornando a sua pregação uma realidade.
Portanto, Pablo, a sua preocupação com o destino dos empregos CLT, caso os grandes empregadores sejam retirados, é ainda mais intrigante! Se o senhor já opera no futuro que prega, por que temer que o sistema antigo caia? O que essa preocupação esconde é o reconhecimento tácito de que o novo sistema ainda é uma metáfora e que o antigo é o que, ironicamente, sustenta a base do país — e talvez até parte da sua operação.
Pablo,
Sua jornada de sucesso e a sua plataforma me parece que visam uma transformação nacional, a minha reflexão final precisa se concentrar naquilo que o Brasil realmente exige de um líder com sua envergadura: A responsabilidade social da liderança empresarial.
O enfrentamento da pobreza e a urgência do combate à miséria não se resolvem apenas com uma mudança de pensamento, mas com a ascensão do Novo Empresário Socialmente Responsável.
E aqui, Pablo, senhores participantes do vídeo e sociedade, é crucial um ajuste na visão. Não se trata de sonhar com a erradicação da pobreza estrutural, pois onde há riqueza, haverá o pobre por coexistência — o sistema opera em uma interdependência fundamental, onde um polo se define em relação ao outro. O equilíbrio é o melhor caminho, mas essa interdependência existe em detrimento de uma das partes. O foco, portanto, não é em retirar os ricos ou eliminar a pobreza estrutural.
A responsabilidade moral e o grande desafio é a erradicação da miséria. A miséria, sim, é uma doença social que deve ser banida do planeta Terra.
O empresariado precisa criar negócios viáveis e ambientalmente sustentáveis. Esta responsabilidade social, antes vista como idealismo, é hoje uma preocupação mundial que dita a nova economia. No contexto brasileiro, onde a sua tese sobre o enriquecimento em massa encontra o limite da complexidade, a visão precisa ser global.
Se, porventura, tivéssemos uma massa de 52% da população na condição de milionários, a economia interna poderia colapsar, a não ser que o desenvolvimento fosse cunhado em uma integração comercial global. Isso causaria problemas drásticos, como a supervalorização da mão de obra e um potencial aumento da pobreza em função de um lado não querer pagar o custo da existência do outro.
O exemplo de Nova York – a cidade com o maior número de bilionários e, ironicamente, com um dos maiores índices de pobreza em um país desenvolvido – serve como um estudo de caso: onde o abismo social cresce, os aluguéis disparam e os salários não acompanham[^1]. O Brasil é rico em recursos — água, agronegócio, botânica, minerais —, mas o Novo Empresário precisa ter uma visão de avanço do país que exige um olhar multidimensional além das fronteiras. O verdadeiro enriquecimento da sociedade está em pensar de forma global, transformando nossa riqueza interna em moeda de troca mundial.
O senhor tem a audácia, a valência e, inegavelmente, a competência individual.
“Mas a envergadura para assumir a liderança da nação não é medida pelo tamanho do patrimônio, e sim pela capacidade de liderar um pensamento coletivo empresarial moderno que transcenda o lucro pessoal e abrace a responsabilidade social dos últimos dias.”
No momento, o pensamento coletivo da sociedade empresária ainda está em busca desse perfil. O nosso panorama empresarial está muito longe de ter um líder com tal envergadura no Brasil, capaz de assumir a Presidência da República com a visão do Novo Empresário Socialmente Responsável, que o país desesperadamente necessita.
A sua plataforma ainda está no palco, Pablo. E o verdadeiro sucesso, para a nação, não será quantos indivíduos o senhor consegue levar ao topo, mas sim a sua contribuição para a construção desse novo pensamento coletivo que, um dia, possa gerar um LÍDER de fato à altura do Brasil.
[^1]: Nova York é considerada a cidade com mais milionários no mundo, abrigando aproximadamente 349.500 milionários e 110 bilionários (dos quais um milionário existe a cada 24 moradores). Essa concentração de riqueza coexiste com altos índices de pobreza e desigualdade no mesmo local. Fonte: Relatório sobre a Riqueza dos EUA em 2024 - Henley & Partners/New World Wealth.
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