Conheça seus projetos e obras: a primeira ferrovia do país, o telégrafo submarino ligando Brasil a Portugal, a fundação de bancos, estaleiros e companhias de iluminação a gás, modernizando a capital do Império, o Rio de Janeiro.
O maior empreendedor do Brasil, Visconde de Mauá, um homem de $80.000.000.000 oitenta bilhões de dólares, morreu pobre: por que sua história é tão pouco conhecida? |
Apesar de seu sucesso monumental e de ter sido considerado o homem mais rico do Império com uma fortuna estimada em mais de $80.000.000.000 oitenta bilhões de dólares, Mauá teve um fim de vida amargo. Ele faliu, perdeu a maior parte de sua fortuna e morreu em 1889, praticamente na pobreza.Jornalista Lauro Nunes
A Primeira Ferrovia do Brasil
Em 1854, Mauá construiu a Estrada de Ferro Mauá, a primeira do Brasil. Com seus 14,5 quilômetros, a ferrovia ligava o porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à Raiz da Serra, no Rio de Janeiro. Embora fosse um trecho pequeno, foi um passo gigantesco que marcou a entrada do país na era da tecnologia de transporte a vapor. A ferrovia foi fundamental para o escoamento da produção e para mostrar que o Brasil tinha capacidade de se modernizar.
O Telégrafo Submarino
Mauá foi um dos principais investidores na instalação do cabo telegráfico submarino que, em 1874, conectou o Brasil à Europa. O cabo partia do Rio de Janeiro e ligava o país a Portugal, revolucionando a comunicação. Antes disso, as notícias e ordens demoravam meses para chegar. Com o telégrafo, a informação passou a viajar em minutos, integrando o Brasil ao sistema global de comunicação da época.
A Conexão Pela Oposição ao Mesmo Sistema Político
Tese de Lauro:
Jornalista Lauro Nunes
“A história de Visconde de Mauá e a de meus ancestrais, Cleto Nunes, se entrelaçam não por um encontro, mas por uma ideologia e por um destino comum. Ambos foram abolicionistas, empreendedores e defensores de um Brasil industrial, beneficiados por um período histórico de protecionismo econômico. Naquela época, o governo elevou as tarifas de importação de 15% para 30% em uma manobra que impulsionou a indústria nacional e permitiu a Mauá prosperar. Eles foram, contudo, vítimas do mesmo sistema que se consolidaria com a Proclamação da República, sob a liderança de Marechal Deodoro da Fonseca.
A pobreza de Mauá e a de Cleto Nunes, no final de suas vidas, não foi por acaso, mas sim um símbolo da derrota de uma visão de país, que seria esmagada em nome dos interesses das oligarquias do café. Diferente da Princesa Isabel, que, movida pelo ímpeto do momento histórico, não conseguiu realizar uma manobra política estratégica para conter a retaliação da elite. A Princesa não analisou profundamente a geopolítica da época, que envolvia potências como a Inglaterra pressionando pelo fim da escravidão, mas não pela industrialização do Brasil. A falta de uma manobra de contrapeso culminou na extradição de Dom Pedro II para Portugal e deixou o Império vulnerável.
Um líder recente, o presidente Lula, enfrentou uma situação similar envolvendo commodities como café, soja e minério. Com um conhecimento mais apurado das forças geopolíticas, ele conseguiu fazer uma manobra estratégica que preservou sua posição e a estabilidade do Brasil. Tal qual Mauá, que usou a taxação como uma alavanca para o crescimento, o presidente Lula, um visionário moderno, viu a oportunidade de criar uma situação que pode beneficiar diversos países e empreendedores ao redor do mundo, na busca por descentralizar o poder financeiro global. O evento mais recente que exemplifica essa visão de mercado foi a carta enviada por Donald Trump, propondo uma taxação de 50% sobre as commodities, um fato que os jornais não trouxeram à luz da oportunidade. A estratégia de Lula foi silenciosamente muito bem orquestrada na ampliação do BRICS, que hoje conta com onze nações: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A criação de uma nova moeda do bloco econômico e do Banco de Desenvolvimento representa um movimento que o Brasil não pode deixar escapar, pois simboliza uma nova independência, agora sobre o dólar. A história parece estar se repetindo, mas com um cuidado muito maior na observação sistemática e estratégica das polaridades, um avanço na busca por um modelo multipolar que evita os extremos e contribui para a evolução global.
A Fundação de Bancos e Empresas
O empreendedorismo de Mauá ia muito além do transporte. Ele foi responsável por criar o Banco do Brasil e a Casa Bancária Mauá, MacGregor & Cia. Esses bancos financiavam a maioria dos seus projetos, criando um ciclo virtuoso de investimento. Ele também investiu em estaleiros, companhias de gás e outras indústrias que eram essenciais para o crescimento do país.
A Modernização da Capital do Império
A Companhia de Iluminação a Gás, fundada por Mauá, mudou a face do Rio de Janeiro. As ruas, que antes eram escuras e inseguras, passaram a ter iluminação pública. Essa inovação não só melhorou a qualidade de vida, mas também simbolizou a modernidade e o progresso que Mauá tanto defendia para o Brasil.
Por que a riqueza não durou?
A queda de Mauá não foi apenas resultado de má gestão. Ela foi o produto de uma série de fatores, incluindo:
- Oposição da elite conservadora: Seus projetos industrializantes e sua defesa da abolição da escravatura iam contra os interesses dos grandes proprietários de terras, que dominavam a política e a economia da época.
- Crise financeira e política: O cenário político e econômico da década de 1870, com crises internacionais e a crescente instabilidade do Império, afetou diretamente seus negócios.
- Boicote de seus rivais: Muitos de seus adversários usaram sua influência para criar obstáculos e dificultar o acesso de Mauá ao crédito e a novos investimentos.
A história de Mauá é um lembrete poderoso de que a inovação e o progresso nem sempre são bem-vindos. Sua trajetória, marcada por feitos grandiosos e uma queda trágica, serve como um espelho para entender os desafios que o Brasil enfrentou (e ainda enfrenta) em sua busca pelo desenvolvimento.